sábado, julho 16, 2011

Fogo Lento / Susana

Recordações aquelas que continuam presentes, porque não recordamos apenas quando perdemos, temos que sentir a serem cozinhadas num fogo lento de uma paixão ainda consumida. O tempo vai passando por nós, numa memoria longa de um destino que desenha a nossa historia, pintando o céu de beijos, as estrelas da cor do teu sorriso, num eterno universo onde vagueamos juntos, num perpetuar de um primeiro beijo ainda hoje saboreado, lentamente, como o toque suave de um pincel numa tela vazia, preenchida aos poucos, criando uma obra de arte que nunca estará finalizada pois haverá sempre mais um sorriso para desenhar, um beijo para pintar e dois corpos entrelaçados numa cama para esculpir.
A noite adormece, neste corpo que envelhece com os anos e o único desejo que resta é que o faça ao teu lado, recordando o passado como um presente recente que passou por nós. Continuo a escutar a tua voz num quarto de luz apagada e nós por entre lençóis, partilhamos palavras apaixonadas nunca antes repetidas e mil vezes declamadas em poemas escritos, que só encontram sentido quando palavra a palavra são lidos por ti.
A vida muda tanto e os sonhos vão e vem como ondas numa praia vazia, talvez tenha sido um eterno sonhador que tentou sonhar a vida que não vivia, idealizou uma cor, talvez mais brilhante para ver na distancia todos os sonhos que não foram realidade. O tempo vai desvendando a verdade de uma dura realidade que os nossos olhos recusam ver, hoje vejo que não passaram de ilusões, para aquela criança já adulta que fervia de vontade em marcar o mundo, tanta vontade e ingenuidade que só agora descobriu que é preciso pouco, tão pouco para ser feliz, basta um amo-te soletrado pelos teus lábios para sentir-me realizado, basta um leve e suave beijo para tornar realidade tudo o que desejo. Largo os mil sonhos perdidos nessa estrada vazia que em noites frias percorri, esqueço os mil passos dados em direcções opostas para seguir os teus passos, fecho portas abertas como quem já não precisa de fugir e apago todas as folhas preenchidas por palavras vazias para voltar a rescrever, sentidas em cada ar teu que eu respiro, em cada suspiro de felicidade no qual descrevo a verdade dos nossos corpos, que amam e continuam a amar como duas crianças a desenhar na areia molhada os nossos nomes, numa onda que apaga e a persistência do sonho vivido faz com que escrevamos de novo letra a letra nesse eterno sentimento que perdura na loucura de amar quem nos ama, olho para trás, observo essa praia completamente preenchida com os nossos nomes, por que as ondas do tempo não conseguem apagar a persistência de um amar.
Olhando para trás…Conjugando tempos passados, faz quase dez anos desde que contemplei pela primeira vez o teu sorriso e beijei esses lábios ternos e suaves desenhados por deuses que ao tocarem na pele deste mero mortal entregaram a imortalidade, ai começou a viagem por entre o desconhecido, que aos poucos ganha um rasto, num olhar cada vez mais intenso, o inicio será sempre apenas isso, um tiro no escuro de dois corpos cegos que não sabiam nada de uma vida ainda por viver.
Perdi demasiado tempo entre outras palavras, corpos e pecados, talvez hoje tivesse seguido um único caminho mas não seriamos quem somos, talvez fossemos uma recordação de quem sonhou e fez sonhar, de quem amou e ensinou a amar. Talvez tenhas amado demasiado e eu não dei valor, nem ao teu amor nem a tua dor, apaguei aquele belo sonho e desenhei traços de pesadelo no teu caminho, que depois vivi para sentir o mal que criei, foi nesse momento que amei todos aqueles segundos que deixei o nosso amor num mar a deriva por não ter amado o que devia. Entrei na estrada errada para descobrir o caminho certo e estive perto de perder-me na eterna escuridão de sentimentos não vividos, voltei atrás, num ultimo fôlego que foi o inicio de um novo amor que nasceu da dor, essa que para os teus olhos, nunca foi dor mas sim esperança, resistindo a força do tempo, essa mesma força com que abraças-me durante a noite quando choro e tu constróis uma fortaleza com os teus braços para defender-me, nesses momentos sinto-me realizado, no olhar doce e sereno que o teu amor entregou e eu sem ele já não sei ser quem sou.

1 comentário:

Maria João disse...

... enfim que dizer...se quem escreve se fez poeta no sentir e se só no sentir é possivel encontrar o verdadeiro sentido da vida! quem diria que um dia me irias fazer chorar e arrepiar de verdadeiro orgulho pelo teu saber dizer... o que tantos outros escondem! ADOREI! nada a corrigir, nada a acrescentar... apenas um sim...falaste tambem por mim.... e por isso obrigada!